Costumava acordar cedo:
sempre às 18 horas, e evitava abrir a janela para olhar a tarde-noite. Pairava
o medo de sentir-se tentada a voar como imaginava ser capaz na fase da vida em
que aprendera a escrever uma palavra que até então ela nunca havia pronunciado:
MÃE. Molhava o algodão naquele líquido de cheiro forte e esfregava nas unhas
tirando a cor de um esmalte que não aprendera a usar. Com o corpo descortinado
de fios a circundar os poros, tentava se despir da pele que tão bem disfarçava
sua tristeza. Retirava todos os pelos do corpo e ansiava que cada ida àquele
encontro a fizesse se esquecer de si.
Ao longo da vida, nas
vezes que tentara se amarrar a alguém, definhava e seu pé logo se via livre das
correntes que a prendiam. O abrir-fechar-abrir de asas sempre a encantava e a
vontade de se vestir de personagens diversas talvez tivesse vindo depois de
adulta, quando percebeu que ser uma era pouca[1].
Desceu as escadas,
dessa vez, com a firmeza de uma veterana e ficou à espera do próximo cliente.
Um comentário:
Ah, Val... você me proporciona viagens inesqucíveis... sua fã!!!!
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