quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Desiderata - Max Ehrmann


Viva tranqüilamente, por entre a pressa e os ruídos, e lembre-se de quanta paz há no silêncio. Tanto quanto possível, sem se render, esteja em bons termos com as pessoas.
Diga sua verdade calma e claramente, e ouça os outros, mesmo os mais medíocres e ignorantes – eles também têm a sua história.
Evite as pessoas espalhafatosas e agressivas, pois essas são um insulto ao espírito. Não se compare com os outros, para não se tornar vaidoso ou amargo, e saiba: sempre haverá pessoas melhores e piores que você. Desfrute tanto de suas realizações quanto de seus planos.
Cultive seu trabalho, mesmo que ele seja humilde; esse é um bem real, frente às variações da sorte. Seja cauteloso em seus negócios, pois o mundo é cheio de armadilhas. Mas não deixe que isso o torne cego para a virtude, que está sempre presente; muitas pessoas lutam por ideais nobres e, por toda a parte, a vida é sempre exemplo de heroísmo.
Seja sempre você mesmo. E sobretudo nunca finja afeição. Nem seja cínico em relação ao amor, pois, apesar de toda a aridez e desencanto, ele é tão perene quanto a relva.
Aceite serenamente os ensinamentos do passar dos anos, renunciando suavemente àquilo que pertence à juventude. Fortaleça seu espírito para que ele possa protegê-lo diante de uma súbita infelicidade. Não antecipe sofrimentos pois muitos temores são apenas fruto do cansaço e da solidão. Mesmo seguindo uma disciplina rigorosa, seja leniente consigo.
Você é filho do Universo, tanto quanto as árvores e as estrelas; e tem o direito de estar aqui. E mesmo que isso não seja muito claro para você, não tenha dúvida de que o Universo segue na direção certa.
Portanto, esteja em paz com DEUS, não importa a maneira como você O concebe, e sejam quais forem as suas lutas e aspirações, na terrível confusão que é a vida, fique em paz com sua alma.
Pois, apesar de toda a falsidade e sonhos desfeitos, este ainda é um lindo mundo. Seja cauteloso. Lute para ser feliz.

Ehrmann, Max. Desiderata. Tradução de Iva Sofia Gonçalves Lima. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

sábado, 25 de dezembro de 2010

25/12/2010

Então é Natal...
Exatamente no dia em que os homens estão mais sensíveis, minha voz resolveu calar-se.
Sinto-me "o estrangeiro", nada me comove, culpa de Camus que me apresentou Meursault.
Não me importa que hoje é Natal, Cristo nasce todos os dias dentro de mim e isso me basta.



Sem que haja uma necessidade de combinar dias para fazer minhas postagens, exponho aqui um texto interessante que encontrei durante uma visita ao blogue do Nei.

AS REINAÇÕES DE MONTEIRO LOBATO (por Joel Rufino dos Santos)

O escritor Monteiro Lobato não era tão inocente quanto andam dizendo por aí, em meio à polêmica sobre a suposta censura que sua obra estaria sofrendo. Vejamos.

Em 1944 publicou o livro A Barca de Gleyre, que reúne, em dois volumes, cartas por ele enviadas ao escritor mineiro Godofredo Rangel entre 1903 e 1943. Em uma delas, o “sobrinho” da Tia Nastácia assim se manifesta sobre o povo dos subúrbios cariocas:

“Estive uns dia no Rio (...). Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi ?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!... (in A barca de Gleyre. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).

Disponível em: http://www.neilopes.blogger.com.br/. Acessado em 25/12/2010 às 10:10 hs.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Versos de Natal - Manuel Bandeira

Espelho, amigo verdadeiro
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta. (1939)

Versos de Natal in: BANDEIRA, Manuel. Bandeira de Bolso: uma antologia poética / Manuel Bandeira; organização e apresentação de Mara Jardim. - Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Literatura e eu

Por quê escrevo?
Não sei. Às vezes penso que é melhor ler do que ouvir minha voz.
Será que escrevo para você ou para mim ?
Sinto romper, quebrantar meu coração.
Preciso falar, mas será que me ouviria?
Sua voz sempre corta a minha.
Sim, é isso mesmo que quero.
É a literatura na veia.
Vou pagar um preço?!
Ah! Mas disso já sei, já estou pagando.
E não me importo.
Vou até o fim.
É muito mais forte que eu.
E a cada novo horizonte que vislumbro, meu coração pulsa ainda mais
forte e ganha um novo fôlego.
Se quiser me acompanhar ainda tem espaço por aqui,
mas por favor não tente me parar.

Minha gênese.

Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura de café, vinda da mãe, misturada ao branco defunto do meu pai, comerciante português. Trago em mim o inconformismo inconciliável e este é o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez. Talvez é não para quem quer ouvir sim e significa sim para quem quer ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me sim ou não? Ou são os homens que devem aceitar o talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raro são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta.

PEPETELA. Mayombe. Lisboa: Dom Quixote, 1997 apud DUTRA, Robson. Pepetela e a Elipse do Herói. Luanda: UEA, 2009.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Viagem literária

Uma viagem com letras, teatro, cinema, música e muita emoção.
Com este roteiro em mãos, parti em busca de novos horizontes.
Iniciei esta viagem literária com Ana C., uma carioca cheia de graça e sem papas na língua.
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De repente, durante os primeiros passos da viagem,
o inesperado aconteceu, amor à primeira vista,
um alemão alucinado - W. B. - que estará ao meu lado durante
muitos anos de minha vida, roubou meu coração.
E as surpresas continuariam; Ana me manda Caio Fernando, um de seus melhores amigos para mostrar que o Zézim poderia ser eu.
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Dancei um belo tango com Sabato, em Nova Iguaçu, pela manhã.
Nas terras de Kublai Khlan fiz uma pequena viagem pelas Cidades de Calvino, e pelo olhar de Marco Polo conheci e me rendi aos encantos de Zora, uma cidade tão visível a ponto de ensinar que viver requer movimento .
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Retornei ao Rio de Janeiro, e no palácio do Catete senti amor e ódio por Getúlio. E como nunca conseguimos visitar todos os lugares interessantes durante uma viagem, não pude conhecer os procedimentos de César Aira. Mas redimi minha culpa ao descobrir com Camus que eu não preciso viajar ou ir tão longe para me sentir um estrangeiro.
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Segui meu caminho e encontrei pessoas interessantes como Hanna e Macabéa que tinham em comum o desejo de ser floração. Já findando a longa jornada, (re)encontrei um carioca de alma nordestina que me apresentou à Guerra de Canudos, e tão rica quanto a linguagem de Euclides descobri e me emocionei com o Cárcere de Graciliano.
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Chegando ao meu destino provisório, havia uma Bella senhorinha de tênis me esperando para me apresentar um ícone da literatura hispanoamericana. Jogo as malas no chão, e meu coração por um breve espaço de tempo descansa ao saber que Borges também imaginou que o paraíso era uma grande biblioteca.

 

sábado, 4 de dezembro de 2010

Nocturnamente - Mia Couto



Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo

Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio

Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces