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Nova York,
corpo da cor do asfalto. Em torno da cintura faixa úmida, o rosto janela fechada...eu disse: abre-o Walt Whitman - "digo a senha primordial" - mas só a escuta um deus já fora do lugar. Os prisioneiros, os escravos, os desesperados, os ladrões, os doentes precipitam-se de usa garganta, e não há saída, não há caminho. Eu disse Ponte do Brooklyn! Mas é a ponte que liga Whitman a Wall Street, a folha-grama à folha-dólar...
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Nova York - WALL STREET - RUA 125 - 5ª AVENIDA
Fantasma medúseo se ergue dos ombros. Mercado de escravos de todo tipo. Pessoas vivem como plantas em jardins de vidro. Miseráveis invisíveis interpenetram-se como a poeira no tecido do espaço - espiral de vítimas.
O sol é funeral,
o dia, tambor negro.
"Um túmulo para Nova York", do livro "Este é Meu Nome (1970-1980)" - Adonis* , inédito no Brasil. Tradução de Michel Sleiman.
Fonte: Jornal O globo, Caderno Prosa e Verso - 19/03/2011
*Adonis é o pseudônimo do escritor sírio Ali Ahmad Said Esber.
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