quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Índio-afro-branco descendente

 No navio viemos,
kalunga a nos buscar,
para construírmos um país
onde não tinhamos lugar
Nossa escola foi o pelourinho, Quando aqui chegamos
A senzala nos aguardava, o engenho nos chamava,
A liberdade nos espreitava,
Para os quilombos fomos marchando
Sem posses, Sem laços, Sem família,
raça impura, sem religião
Esse foi o argumento do branco
quando nos trouxeram num porão
Nossa religião, às escondias sobreviveu
Golpes disfarçados, rodopios rasteiros
num passo ritmado da cadência da dança,
capoeira nasceu
Muxoxo, Samba, Acarajé
Palavras que permeiam o dia-a-dia brasileiro
Estamos na comida, no folclore,
Na dança, no terreiro

Não há medo do novo
Novos desafios se (re) erguerão,
Encontraremos novos lugares,
Mas há mais de 100 anos foi abolida a escravidão?!
Uma lei para ensinar nossa história
Não apagar nossa memória, assim colocaram
Espaço na universidade, reservas de “generosidade”
Mas nosso saber está difundido,  querer, só a dignidade
Desde o navio negreiro,
Muitos pretos novos ainda hão de morrer,
Antes nos portos, e senzalas, agora, nas favelas,
Em muitas ruas e becos,
Avenidas e vielas

Por que quem olha do centro
Me chama de periferia,
Mas periferia pode ser você,
Tudo depende do olhar de quem vê
Negra cor, Cabelo pixaim
Sorriso de alegria tão igual a mim
África- mãe, Zumbi meu pai
Criaram um filho que crescendo vai
Vemos a vitória de um povo
Povo que nasceu vencedor
Sangue indío-afro-branco descendente
cafuso, mulato, confuso, brava gente, brasileiro por amor.

Valéria Lourenço.

P.S.: Esta poesia recebeu uma Menção Honrosa (22/11/2011) entre 187 poesias inscritas no X Concurso de poesia da Prefeitura Municipal de Duque de Caxias.

Nenhum comentário: